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Migração de carreira é pra mim?

Migrar de carreira é algo que coloca a gente do avesso, a gente começa a descobrir fragilidades e fortalezas onde nem imaginava. Eu amo a liberdade de poder mudar de idéia e seguir caminhos diferentes. E eu fiz isso depois dos 30 anos e vindo de uma área diferente.

Quem diria que essa baiana de Alagoinhas, um dia iria estudar na estação hack do facebook que era um prédio com iniciativas educacionais e de negócios sociais apoiadas pelo facebook.

Ou que ela iria estudar dentro da sede do ifood descobrindo como eles criaram o app tão famoso. Vem comigo que vou te contar tudinho aqui nesse texto!

  1. Como me interessei e como dei os primeiros passos na programação
  2. Como foi minha busca pela primeira vaga de dev
  3. Como lidei com alguns medos que ocorrem durante a migração de carreira
  4. Quais os primeiros passos para quem deseja ser dev

1- Como me interessei por programação

O ano era 2019 e meu interesse por programação surgiu por necessidade e curiosidade.

Com formação em marketing eu tinha uma agência digital que gerava resultados para empresas de afroempreendedores. E um dos clientes era o Movimento Black Money, o hub pra inserção digital da comunidade preta.

Em janeiro, eles criaram o afreektech um curso pra ensinar conteúdos digitais pra uma galera preta no Rio de Janeiro, na turma de marketing eu fui mentora. E na turma de programação pra pessoas não programadoras eu pedi pra ser aluna. 

Primeiros cursos e principais aprendizados

AfreekTech

3 curiosidades legais desse curso: 

1-  é que foi lá que eu dei meu primeiro hello world em javascript e entendi os princípios básicos de como a web funciona.

2 –  o professor era o Halisson Paz um dos criadores do canal programação dinamica <3

3 – lá eu fiz amigas pra vida toda 

Gama Academy

Depois disso eu passei 2 meses em São Paulo para participar da turma de front-end da Gama Academy, eu aprendi a importância das soft skills e do networking. 

Eu tive contato com ReactJS a primeira vez e vou te contar que não foi amor à primeira vista. Meu computador era veinho de 2013 e as vezes travava, as vezes eu não conseguia acompanhar a aula.

Foi a primeira vez que vi Git também e morria de medo do terminal. Eu odiava errar e ouvi uma frase que me marcou: “Você precisa aprender a gostar de errar. Isso mostra que você tá tentando coisas novas e que está crescendo.”

Reprograma

Em julho de 2019, eu tava participando do processo seletivo da reprograma, antes mesmo de ser aprovada pra o curso que era presencial eu decidi: vou mudar pra São Paulo e se eu não passar, eu faço qualquer outro curso.

O resultado final saiu e foi um sim muito aguardado. Foi um inverno super frio e literalmente eu nem tinha roupa pra aquilo. hahah 

Eu já cheguei em São Paulo com mais 30 amigas, e a gente dividiu nossas semanas de segunda a sexta das 9 as 17, durante 4 meses e meio dentro da estação hack do facebook.

Eu tive a chance de rever com calma, javascript, html, css e React. Me apaixonei e assumi: quero ser dev. 

Next

Era um curso de Java, conheci uma galera massa e todo sábado eu ia lá estudar dentro da sede do ifood. 

Conheci como o ifood resolvia alguns problemas de arquitetura da área de logistica e sabia que era um conteúdo ainda muito avançado pra mim naquela época.

Mas foi super importante estar lá e ter experimentado codar em Java também.  Nesse iniciozinho é importante testar coisas diferentes pra descobrir o que gostamos mais. Mas com cuidado pra não perder o foco, né?. E não foi Java. rs

2- A busca do meu sim

Enquanto eu fazia todos esses cursos, ainda atuava com marketing. Mas corta pra 2020.

Chegou pandemia e com ajuda psicológica, eu percebi que era a hora de tomar mais uma decisão: migrar de vez pra tecnologia e conseguir minha vaga de jr. Inclusive contei tudo isso no podcast quero ser dev.

Eu não empreendia por que tinha grana pra investir, eu empreendia pra pagar boletos fazendo o que eu amava. Não tinha uma reserva de emergência, não tinha plano de saúde e fiquei super assustada com a pandemia.

Eu queria estar amparada com um bom salário, beneficios e um rumo mais certo na minha carreira. E migrar de vez parecia ser o caminho ideal. Então fui encerrando meus contratos aos poucos e me organizei pra ficar 3 meses só estudando e aplicando pra vagas. Eu fiz isso de outubro até dezembro daquele ano.

Eu sei que muita gente não tem esse acesso, por ser o sustento da casa. Mas existem outras formas de conciliar tudinho.  

Eu fiz uma listinha com muitas empresas que eu lia sobre valorizar diversidade, pessoas em inicio de carreira e ter bons beneficios. 

Até entrevista em ingles eu fiz pra empresa gringa. Mas eu também entrevistava as empresas e eu aprendi muito durante cada processo seletivo: pitch, testes unitarios, melhores práticas de desenvolvimento de software, algoritmos e estruturas de dados e muitas outras coisas. Alias se vc precisa de ajuda para algumas dessas etapas vem conferir aqui esse vídeo:

E enquanto fazia entrevistas eu fiz a NLW da Rocketseat e ganhei uma bolsa lá pra continuar estudando ReactJs e NodeJs.

O fato é que eu apliquei pra muitas vagas, recebi mais de 20 nãos, fiquei no vácuo de alguns processos seletivos, demoraram pra me chamar pra entrevista, eu chorei com os nãos, eu tive ansiedade com a falta de retorno.

Mas em dezembro chegaram os 3 sim que eu recebi, ali veio a minha favorita da lista a Thoughtworks.

3- Medos e relatos honestos pra você entender que migração de carreira pode ser pra você

“Quero ser dev, mas tenho medo de não conseguir meu primeiro emprego”

Eu também morria de medo, eu achava que ninguém me daria uma oportunidade por não ter experiência na área. 

Mas a real é que enquanto a gente estuda programação a gente vai acumulando experiência com os projetinhos pessoais que formam nosso portfólio, a gente tem experiência em aprender a aprender  e isso é muito importante pra conseguir a primeira oportunidade.

As empresas comprometidas em desenvolver pessoas em início de carreira entendem isso, elas sabem que você pode não ter vivência com metodologias ágeis, com colaboração em time e com melhores práticas de desenvolvimento de software.

Mas se você fez uma migração de carreira, por exemplo, você está trazendo bagagem e repertório da posição anterior, além de muitas habilidades comportamentais (as famosas soft skills).

E algumas empresas  estão também criando programas educacionais pra te ajudar nesse início de jornada. Muitos deles com contratação CLT, ou seja você recebe salário e benefícios para estudar dentro da empresa.

E logo após ser encaixada num time.. Uma boa opção também pra quem está na faculdade, por exemplo, é buscar por estágios. 

Agora, uma coisa é fato, se você não se inscrever em processos seletivos, aí sim é que você não vai conseguir a vaga dos sonhos. Por mais que seja doloroso receber alguns nãos, se jogue e aprenda com cada processo seletivo. 

Além disso, foi super importante entender que cada pessoa tem seu tempo, e me comparar com elas é injusto. Tem gente que consegue a vaga ideal nas primeiras entrevistas, eu só consegui depois de mais de 20 tentativas.

Eu só fui ganhando mais confiança quando percebi que estudar e praticar todo o conhecimento adquirido também é experiência e que a minha vaga dos sonhos tava ali pertinho de mim.

“Quero ser dev, mas tenho medo de não ser suficiente e não dar conta das demandas”

A verdade é que a gente não é suficiente mesmo. Nem se a gente fosse senior seria suficiente e é por isso que as empresas precisam de times. 

Quando a gente está estudando programação não tem a noção de  que numa vaga como jr. a gente não precisa dominar 100% das ferramentas. O que precisamos é estar abertas para aprender e com o apoio do time a gente consegue ir mais longe.

Como falei antes, as empresas entendem isso. Por isso muitas delas criam programas educacionais para absorver e formar pessoas em inicio de carreira, a maioria com  foco em diversidade. Eu mesma comecei minha carreira num programa desses a TWU – Thoughtworks University Brasil. 

É bem verdade que bate logo uma ansiedade da nossa parte pra entregar resultado, logo nos primeiros meses. Mas se eu pudesse te dar um conselho seria: tenha paciência consigo mesma e mergulhe em entender os processos gerenciais do seu time, como por exemplo as cerimonias e planejamento das tarefas, mergulhe em entender as regras do negócio, o fluxo da pessoa usuária, a estratégia usada na qualidade e também como é o caminho pra produção.

No mais,  confia no tempo que o dia a dia vai te dando experiência pra dominar a codebase (o código) do pojeto que você entrou. Essa visão mais ampla vai te dar segurança e autonomia pra  agregar no projeto. Confia!

“Quero ser dev, mas tenho medo de compartilhar o pouco do conteúdo que sei e ser zombada”

Eu também morria de medo de julgamentos. A verdade é que eu ainda sinto esse medo. E toda vez que eu imagino o que as pessoas mais experientes de mercado podem pensar sobre meu conteúdo chega dá um friozinho na barriga. Esse medo é real.

Mas daí, eu respiro fundo e paro de me comparar. Eu lembro que não há nada que eu saiba tão pouco que eu não possa compartilhar. Eu lembro de pessoas que estão no comecinho da jornada para se tornar uma pessoa desenvolvedora, eu sei que meu conteúdo pode ajudar bastante. 

Além do mais, toda vez que vou compartilhar algum conteúdo, eu estudo sobre. Então é uma troca linda onde todo mundo sai ganhando.

É… nesse iniciozinho da carreira, principalmente se você está vindo de uma área completamente diferente e se você faz parte de grupos subrrepresentados no mercado de tecnologia, você encara muitos desafios diariamente.

Não vou mentir para você, não é fácil, só que eu não passei por isso sozinha. E você também não precisa. Peça ajuda!

Peça mentorias, aposte no pair programming, faça parte de comunidades e faça também parte de programas imersivos em parceria com empresas atuantes no mercado. Sei lá, me manda uma DM, rs! (Eu demoro, mas respondo!)

E se puder, faça terapia! Simmm, procure ajuda profissional, pois fazer transição de carreira  é uma tarefa muito árdua e revolucionária. Essa jornada coloca a gente pelo avesso e toda ajuda é válida.

Por fim, aproveito pra deixar um recadinho do coração: os erros na tela não dizem nada sobre você, na programação tá tudo bem errar dentro desse ambiente controlado que é o inicio de carreira, isso mostra que você está tentando coisas novas, está crescendo. 

ERRE MAIS e tenha paciência pra resolver tudinho. Tenho certeza que você vai aprender com o processo. Eu to aprendendo muito! Mas, e se der medo? Vai com medo mesmo! Vamos juntas! 

E você vai perceber o quanto essas ações podem fazer total diferença e você não se sentirá tão perdida.

4- Quero ser dev, e agora?

Pesquise sobre quais áreas existem e escolha a sua

No início, eu estava me sentindo exatamente assim, eu não sabia quais conteúdos estudar e me aprofundar pra me tornar uma dev. 

E não era a falta de opções que me deixava perdida, era justamente o oposto, eram muitas opções, muitos conteúdos e isso tudo me deixava sem saber qual caminho seria mais efetivo.

É importante dizer também que o desenvolvimento é só uma pequena parte desse mercado gigantesco e que é cheio de oportunidades. Tem também as áreas de experiência da pessoa usuária, área de qualidade, a área de negócios, a área de dados, a área de segurança, de infraestrutura e muitas outras. Vale muito a pena pesquisar sobre todas elas e entender a que faz mais sentido pra você.

Aqui eu vou contar um pouquinho sobre a área que escolhi que é desenvolver software e desenvolver aplicações web. E dentro desse mundo existem 2 principais áreas que são: front-end e backend.

Vou dar um exemplo pra te ajudar a entender melhor esses dois termos. Imagina se construir software fosse como um restaurante: temos toda a parte de experiência da cliente, o cardápio, o atendimento, o espaço físico. Toda essa parte de interação da pessoa usuária chamamos de front-end ou lado do cliente. 

Na prática a gente constrói essas telas lindonas com interface interativa e que sempre funciona muito bem, sem nenhum bug(erro) e sempre recebendo e enviando os dados corretamente.

Já no mesmo cenário do restaurante a cozinha, são os bastidores, o lugar onde a mágica acontece, ingredientes, dom da chef e receitas são transformados em pratos deliciosos e a gente não faz ideia de como são feitos. 

A gente só recebe o prato lindão e apetitoso. Esse lugar de bastidores são como o backend, onde os dados são tratados, validados, enviados para serem armazenados no banco de dados ou disponibilizados quando solicitados, chamamos o backend também de  lado do servidor.

Eu comecei fazendo cursos para me tornar front-end, fiz alguns cursos e estudei também de forma autodidata a área de backend. O que me abre muitas possibilidades.

Se você escolheu também começar por front-end esse vídeo pode te ajudar:

Estude lógica de programação

Independente da área que você escolher estudar, você vai precisar começar estudando lógica de programação e esse material aqui embaio pode te ajudar muito:

Decidi estudar programação. Por onde devo começar?

Entenda sua forma ideal de absorver conteúdo e se jogue

Eu precisei aprender a aprender. Entender como meu cérebro funcionava para absorver novos conteúdos, muitas vezes complexos pra mim. 

Para complementar os estudos durante as aulas dos cursos imersivos que fiz, testei a combinação de alguns formatos: lendo, ouvindo, assistindo, mas as formas que mais funcionam pra mim são colocando a mão no código ou explicando para alguém

E você? Já sabe como funciona? Entender isso vai fazer muita diferença!

Desenvolva sua carreira enquanto aprende a desenvolver códigos 

Quando fazemos uma migração de carreira,  não estamos abandonando as experiências que acumulamos na carreira anterior ou na vida acadêmica. 

Pelo contrário, todo aprendizado obtido em outras áreas vira repertório e bagagem e vão fazer de você uma deva incrível.

Leve em consideração as habilidades comportamentais que você desenvolveu. Elas são um super diferencial nesse mercado onde escrever linhas de códigos é  importante, mas as relações humanas se sobressaem pois ninguém constrói software sozinha ou pensando apenas em suas próprias necessidades.

Referências pretas e femininas na área podem te inspirar e te fortalecer

Eu só comecei e estou crescendo na área por me inspirar em pessoas que se pareciam comigo. Essas referências me fortalecem e me mostram que tecnologia é sim o meu lugar. 

Eu me inspiro todos os dias em pessoas como Nina Silva, Kizzy Terra, Monique Evelle, Nina da Hora, Rosi Teixeira, Karen Santos, Grazi Mendes entre outras. Toda vez que vejo os conteúdos delas meu coração vibra com as possibilidades e caminhos reais pra nós, mulheres pretas em tecnologia.

3 cursos grátis e online para formar mulheres em tecnologia

Esses cursos estão transformando as vidas e as carreiras de muitas mulheres cis e trans e de muitas travestis.

✅ @reprogramabr a seleção acontece várias vezes ao ano com foco em vulnerabilidade social
✅ @pretalab_ a seleção tem foco em recorte racial
✅ @minasprogramam a seleção também tem foco em recorte racial e interseccionalidades

Segue cada um dos @ pra ficar de olho na abertura das inscrições de cada bootcamp!

Curiosidade legal: fui aluna da Reprograma, já dei mentoria no Minas Programam e ainda dou aula na Pretalab e Reprograma. É uma honra fazer parte dessas comunidades poderosas.💜

5- Conclusão

Eu não tinha opção de dar errado, eu queria muito minha oportunidade como dev. Não foi um caminho fácil e ainda não é um caminho fácil.

Demanda muito foco, estudo, direcionamento e muitas horas estudando por dia. Mas é sim um caminho real e possível pra sua carreira também.

Eu espero que a minha história te inspire e te ajude de alguma forma. Deixa seu comentário contando como está sua migração de carreira e não esquece de compartilhar ! Vai que ajuda alguém? Te vejo no próximo texto!

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